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1.

Violette - domingo dia 25.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

Cinescópio Seis- Maio\Junho de 2017

                         por

                              Ana Frederico

                              (Professora, revisora e mestranda em estudos literários)

 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

        Violette (Emmanuelle Devos), sentada debaixo de uma árvore seca, começa a escrever as primeiras linhas de sua história. Embora simples esteticamente, é uma das cenas mais poderosas do filme homônimo de Martin Provost, 2013. Trata-se do nascimento de uma das escritoras mais proeminentes da literatura francesa. Violette Leduc, pobre, bastarda, bissexual, abandonada pelo marido, cuja trajetória é marcada ainda por um aborto e trabalho ilegal no início do século xx, revela-nos experiências permeadas pela solidão e falta de amor próprio, por não se enquadrar na definição do que é ser mulher na sociedade machista de sua época.

 

         

 

 

 

 

 

 

 

 

             Enquanto sua escrita avança, acompanhamos além de seus conflitos pessoais e questionamentos, a complexa trajetória de uma mulher em busca de publicação. Considerada menor e imprópria, sua obra sofre censura. Leduc, da mesma forma, sente-se mutilada e sofre uma crise emocional. Mais uma vez, Simone de Beauvoir incentiva-a a continuar a escrever.

 

 

            

             Com o passar dos anos, a protagonista vai se curando e se libertando por meio da escrita literária. Violette reconstrói sua experiência fragmentada e encontra seu lugar de pertencimento.

          

            Reconhecido pelo grande público, "A Bastarda", 1964, é prefaciado por Simone de Beauvoir, cujo texto destaca a singularidade desta escritora que, ao contar sua história, dá voz à experiência de várias outras mulheres de seu tempo.

 

 

 

      

 

 

 

 

 

 

 

 

 

            

                        

 

 

​​​​​​Violette

Martin Provost - 2013 - 139 min.

Sinopse: No início dos anos 1920, a escritora Violette Leduc encontra a filósofa Simone de Beauvoir. Nasce entre as duas uma intensa amizade que dura toda a vida, ao passo que Simone encoraja Violette a escrever mais, expondo as suas dúvidas e medos, abordando todos os detalhes da intimidade feminina.

 

 

 

 

 

 

Still do filme
Still do filme
Still do filme
Still do filme
Still do filme

Trem de sombras - domingo dia 11.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

2.

                         por

                              Filippi Fernandes

                              (Escritor e artista sonoro)

 

        

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

      Principia uma espécie de romantismo entre quatro paredes. Na proa, um homem retém o tempo pela lente da câmera. Sessenta anos depois alguém o revela. E dentro daquele peito, as imagens jorram uma metafísica monumental. Como o entomologista, o capturador retém na gaveta (que alguns chamam de câmara obscura) um presente que não pode passar senão sem alguma nostalgia ou horror. Porque aberta sessenta anos depois, por mais que se imite ou maquie, não é passível de adaptação. Aqui retomamos ao sonho de Muriel que Adolfo Bioy Casares um dia perpetrou.

 

        Em 24 quadros por segundo, disparam olhares, gestos e presenças alveolares. Pulsa a hipnótica luz sobre o relevo esfumaçado da noite. E a partir dali, algo se afigura, como uma revelação: um homem em seu leito de morte a enxergar um despropósito, uma visão meteórica que o faz sorrir, tolamente. “Aquele instante precisa ser capturado”, começa. Esta é a sina do capturador Gérard Fleury, que ao sair de casa em busca da luz necessária, precisa esgotar a experiência, como se cada segundo daquela família precisasse chorar. Ao fim e ao cabo, a luta de Gérard Fleury contra o esquecimento é vã, pois ele próprio desaparece, tal qual fosse uma projeção de alguém. O capturador, sem saber, criou uma Caixa de Pandora, fazendo de si parte integrante da encantada redoma de vidro.

 

         Apesar da deterioração da película, seja pela guerra ou por um destino particular, aquelas imagens parecem fantasmagorias. E frente a ideia da perda, o navegador solitário José Guerin esmiúça as fendas da imagem granulada, intervindo quando bem entende. As imagens adormecidas carregam bons costumes, aquiescida pela bovina moral cristã, onde tudo parece condimentado em cruz e água benta. Ele pode interferir perversamente sobre o que se quis guardar para sempre, ainda que a realidade fosse completamente outra. O tempo de que a imagem fala é de cristal, e é feito de sonho, invenção e melancolia, como nos filmes de Visconti ou nos livros de Proust. Guerín nos mostra uma infância perdida, a agonia da luz, os rendados de uma memória que agora e para muito torna a correr em quem põe-se a observar a ternura envernizada e enxuta do silêncio.

 

​​​​​​Trem de sombras

José Luis Guerín - 1997 - 88 min.

Sinopse: Na madrugada do dia 8 de Novembro de 1930 Gérard Fleury, um advogado parisiense, saiu de casa à procura da luz de que precisava para terminar um filme pastoral nos arredores do lago de Le Thuit. Nesse mesmo dia morreu, em circunstâncias que ainda hoje são desconhecidas.Três meses antes tinha feito uma das suas modestas produções domésticas: um filme sobre o prazer de um Verão filmado no jardim do Hotel Le Thuit, onde o sol brilha sempre; uma espécie de paraíso na terra, onde o tempo não passa.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

       Um caso de amor intenso e adúltero. Um assassinato premeditado. Jovens inconsequentes. A noite charmosa e bucólica de Paris. Um gato preto se equilibrando no parapeito do prédio. Esses são só alguns dos elementos desta trama dirigida pelo estreante diretor Luis Malle em filmes de ficção. E que estréia! Com trilha sonora de Miles Davis e Jeanne Moreau como atriz principal, Acensor para o cadafalso nos reserva diversos ingredientes para o deleite prazeiroso do espectador em 90 minutos de um belíssimo noir francês.

Tao interessante quanto o filme de Luis Malle, destaco o momento histórico em que ele surge. Estamos no final da decada de 50, a França tenta se reerguer das feridas deixadas pela segunda guerra mundial. Ainda há um clima de insegurança por toda Europa, a pobreza e as dificuldades encontradas no dia-a-dia geram uma atmosfera lúgebre e desoladora. A crise é generalizada e afeta todos os campos, inclusive o cinema. Cenario propício para novas ideias e revoluções. Sendo assim, jovens cineastas franceses se unem para desconstruir a dinâmica comercial perversa dos filmes. Nao acreditam mais num personagem opaco, que segue um caminho teleguiado pelo roteiro do início ao fim somente para o entretenimento casual do homem mediano. Eles querem mais. Querem um cinema autoral, diferente dos enlatados pulverizados pelos americanos num sistema de produção em massa. A tela de cinema agora vira uma tela de pintura, e a câmera um pincel nas mãos do diretor. Eles querem que o personagem saia do espaço bidimensional e se torne pessoa, com defeitos, problemas, momentos de superação e de dificuldades. Essa humanização dos personagens vem a rebote de toda a transformação da sociedade mundial, onde as ciências humanas começam a tomar força, os desdobramentos da psicologia, antropologia, sociologia, o ser humano do pós-guerra nao quer ser mais uma máquina, ou um número, ele é denso, complexo e possui diversas camadas.

Apesar de não ter ficado com a fama de seus colegas cineastas Francois Truffaut e Jean Luc Godard, Luis Malle compõe seu filme com todas as características do que se consolidaria a Nouvelle Vague francesa: a estética fragmentada, cenarios reais em detrimento ao estúdio, cenas documentais, roteiro que prioriza o acaso, utilização de longos planos (plano sequência), a femme fatale, enquadramento em close priorizando as reações e olhares dos personagens. Ascensor para o cadafalso é um convite para imersão no noir francês, acalentado pela trilha fenomanal de Miles Davis que trança com perfeição suas notas do trompete às ruas de Paris e seus personagens dúbios, inconsequentes, onde o acaso se mostra peça fundamental de toda a trama.

 

 

 

 

 

 

Ascensor para o Cadafalso

Louis Malle - 1957 - 116 min.

Florence Carala (Jeanne Moreau ) e seu amante Julien Tavernier (Maurice Ronet) sonham em ficar juntos e, para isso, armam um plano para matar o marido dela. Julien assassina o homem, forjando um suicídio, e leva suas coisas para o carro. Logo ele percebe que esqueceu o roupão fora da janela e decide voltar para buscá-lo. Preso no elevador, ele lembra vários indícios que podem incriminá-lo...

Still do filme
Âncora 1

Ascensor para o cadafalso - domingo dia 4.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

3.
Still do filme
Still do filme
Âncora 2

Zé Valmorbida

(cineasta)

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