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Cinescópio Sete- Julho\Agosto de 2017

Almas Gêmeas - domingo dia 30.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

1.

                         por

                              Ana Paula Oliveira

                             

 

        

 

 

 

 

 

 

 

      

 

 

 

 

 

 

Era 1994. Naquele tempo não tinha Netflix e a tv a cabo era precária. As locadoras ainda eram sensação e a ânsia por novidades me faziam passar tanto tempo escolhendo os filmes quanto assistindo aos mesmos. A capa de "Almas Gêmeas" chamou atenção logo de cara e o filme se tornou a grande estrela do meu fim de semana e de vários seguintes.

Duas adolescentes se conhecem na Nova Zelândia em meados dos anos 50 e logo desenvolvem uma estreita amizade baseada em obsessão e fantasia. Um mundo imaginário é construído pelas duas e relatado em um diário onde ficção e realidade se misturam. Mas as coisas não poderiam ser tão simples assim e a relação das jovens logo é vista como homossexualismo (uma doença à época) sendo a separação inevitável, o que fortalece ainda mais a obsessão de ambas. A decisão então é eliminar o problema com um assassinato. O terceiro filme de Peter Jackson (trilogia "Senhor dos Anéis") é também a estréia de Kate Winslet no cinema e não foi um sucesso de público, porém, foi muito aclamado pela crítica na época.

A delicadeza da obra ao contar uma história real chamaram a atenção da pré-adolescente de apenas 11 anos que começava a entender o mundo e se encantava com a ideia do amor puro. As personagens só queriam ser amigas e não se sentem praticando nem um tipo de maldade. Não há vilões ou mocinhos em "Almas Gêmeas", é preciso embarcar no amor sem julgamentos e sem fronteiras. Homossexualidade? Talvez. Amor? Com certeza. É o que importa, ou pelo menos é o que deveria importar.

 

         

 

 

          

​​​​​​Almas Gêmeas

Peter Jackson - 1994 - 99 min.

Sinopse: Nova Zelândia, 1954. Duas amigas desenvolvem uma poderosa e obsessiva amizade, que as faz imaginar um mundo fictício. Os pais, preocupados, tentam separar as duas, mas ambas pretendem fazer o que for necessário para evitar que isto aconteça, mesmo que isso envolva planejar um assassinato contra a mãe de uma delas.

 

 

                          por

              Mariana Mayrink

(pesquisadora de artes visuais)

 

 

 

 

 

     

 

 

 

 

                  O filme é fluxo. Uma paisagem dilacerante que atravessa o corpo espectador. Triste trópico. Congo. Ver uma obra de Arthur Omar é entrar em contato com a matéria imagem, o filme passa, é para ser sentido e experienciado em cada parte do corpo. Ou toca ou não toca. Acredito que para penetrar o universo de Triste Trópico e de Congo não é necessário ter um entendimento complexo do campo imagético, mas apenas estar disposto a entrar em uma brincadeira. Um jogo de decodificação, a informação não é dada, as regras não são claras, os filmes frustram o espectador a todo momento. As imagens traçam vestígios do que as vozes prometem. É preciso estar atento.

       Congo nasce como um experimento. Feito dois anos antes de Triste Trópico, em 1972, explicita a ideia radical cunhada no escrito “O Antidocumentário Provisoriamente”, onde Arthur Omar questiona a função- espetáculo dos filmes de ficção que foi absorvida pelo documentário. Nesse sentido, Congo pode ser visto como uma desconstrução da linguagem documental, mas não só. É uma invenção. As imagens em preto e branco, na sua maioria rurais e alguns letreiros que trazem elementos dessa história, vão além da apropriação de um discurso sobre a congada, o filme se torna o objeto, o filme é a congada.

        Já Triste Trópico, me arrisco a dizer, é uma complexificação das ideias apresentadas em Congo. Pois é um mergulho no caos, uma etnografia antropofágica que nos conta a história do médico Dr. Arthur, brasileiro, de uma família abastada e formado na Sorbonne de Paris. O personagem é um messias, volta ao Brasil com olhar europeu e recusa um consultório em São Paulo para se aventurar no sertão. Um alquimista que justifica a dor na alma por uma simples prisão de ventre.

        Triste Trópico é um documento da brasilidade, uma colagem iconográfica. O escárnio do carnaval, a mística do sertão, janelas que transitam, os filmes caseiros, a criança, a inocência, as tantas mulheres que catalisaram a formação do país, os infinitos rostos, o indígena, o ritual antropofágico. A carne humana é doce e macia. A montagem é o pulso, a força que dá vida ao filme. O som é a carne, o tato, o afeto.

        O Brasil, na década de 70, já é um país industrial, carros passam, trânsito. É possível que neste país de terceiro mundo exista uma cultura forte, vai além da visão eurocentrista de exotizar os trópicos, o Triste Trópico. A alusão ao livro de Lévi Strauss não é uma aleatoriedade, o filme todo mostra um fortalecimento da identidade brasileira além dos módicos escritos antropológicos europeus.

       Na esquiva teórica e linguagem disfarçada de épico, a realidade, como a compreendemos é repleta de lacunas onde não somos capazes de absorver a totalidade daquilo que acreditamos que seja “a verdade” . Com o cinema não pode ser diferente. É necessário que exista espaço de criação para o espectador, é preciso gerar incomodo. Triste Trópico e Congo, geram esse incomodo, deslocam nosso olhar domado que insiste a todo tempo extrair a síntese da informação. É preciso ver. É preciso sentir. É preciso brincar.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Triste Trópico

Arthur Omar - 1974 - 80 min.

Sinopse: Triste Trópico (1974) de Arthur Omar é um "falso documentário". Conta a biografia surrealista de um médico paulista (Artur Alvaro Noronha), recém-formado pela Sorbonne (Paris), que após voltar ao Brasil (nos anos 1920) lidera um movimento de êxodo rural messiânico. De médico ele se torna um profeta indígena, que angaria inúmeros adeptos, e depois se transforma em um canibal. Filmes de época, cartões postais, fotografias, imagens de carnaval e um filme doméstico de Artur Alvaro Noronha, conferem "realismo" à ficção. Triste Trópico é um filme cujo título alude ao livro homônimo de Lévi-Strauss, sobre as memorias de sua estada no Brasil, e faz “eco-referência” ao Manifesto Antropofágico de Oswald de Andrade.

por

Samuel Siqueira

    

 

      Sol brilhante no Nordeste, que sombra define Clara? Quem é aquela mulher que chama a nossa atenção quando descobrimos sua história? Bom, algumas coisas são claras como seu nome: é mulher, nordestina, mãe, viúva, avó, e tia também! Está na casa dos sessenta, é praiana, aposentada, e forrozeira! Ama Maria Bethânia, e dança Gilberto Gil como ninguém, depois de um pouco de vinho. Tem um livro publicado, e uma coleção de vinis de dar inveja ao colecionador. Clara é cult desde os anos setenta, época em que venceu um câncer de mama e era a cara da Elis Regina com o cabelo curtinho. Hoje ela parece mais a Sônia Braga, e tem um cabelo de sereia!

 

     Ela é muita coisa como todos nós, e nos gestos que nos são apresentados, na visita que fazemos a um dos seus cinco apartamentos, ela é algo a mais, e prioritariamente: ela é uma resistência na cidade, ela é a gente na luta do cotidiano. Ninguém quer ser Bonfim na Boa Viagem de Aquarius. E isto tudo é claro e certo.

 

     E como Clara, tão construída em qualidades de fortaleza: mulher, nordestina, que já viveu muito e enfrenta os desafios da alta maturidade, viúva, amante, avó, mãe, resistência; lida tanto com o efêmero - do mundo pós-moderno, do capitalismo financeiro, do grande capital imobiliário, da vida! -, efêmero esse que nas imagens, e gestos do seu espaço, seu mundo, seu filme - categorias que também são nossas! - é apresentado, jogado no nosso colo e na nossa cara o tempo inteiro! E isto tudo é claro e certo.

 

     Entretanto, existe um tanto que é incerto e nebuloso. Como quando vem tempestade na praia de Boa Viagem.

 

    Lá, tudo é desejo de existir em algum espaço, e memória como forma de resistência nesse espaço. Lá e cá eu diria, onde quer que seja.

 

     É então que se se mergulha no mar, tudo é redemoinho onde este próprio texto retorna ao seu início, e a própria arte retorna à vida: quem é Clara, nas imagens e gestos do seu espaço, seu mundo, seu filme? Quem pode ser Clara, nas imagens e gestos do nosso espaço, nosso mundo, nossa vida?

 

    Mistério maior que o mar. Clara, no seu desejo de existir naquele espaço afetivo individual, transbordado de memória afetiva individual que a faz resistir, é sujeito-revolucionário, porém, indefinido e contraditório - como nós? Como quem? -. Uma síntese de muitos, que não se esgota; uma definição que não se fecha em si mesma e pode ser muitas possibilidades - e muitas outras não -. Nossa prometida à heroína luta, mas luta pelo quê? Pelo espaço, ou pelo seu espaço? Pelo direito à memória do que passou, ou pela sua memória do que passou?

 

    É como o som ao redor: (im)palpável, (in)visível. Contornos opacos e paradoxos que se insinuam. Ondas. Polifonia nos gestos de Clara. Polifonia nos gestos nossos. Sol brilhante no Nordeste, que sombra define Clara?

Aquarius

Kleber Mendonça Filho - 2016 - 142 min.

Sinopse: Clara (Sônia Braga), 65 anos de idade, é uma escritora e crítica de música aposentada. Ela é viúva, mãe de três filhos adultos e moradora de um apartamento repleto de livros e discos na Avenida Boa Viagem, Recife, num edifício chamado Aquarius. Clara tem também o dom de viajar no tempo, um super poder que poucas pessoas no mundo são capazes de desenvolver.

2.

Triste trópico - domingo dia 6.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

Aquarius - sexta dia 4.6 às 19 horas - ENTRADA E LIVRE - TRIBUNA LIVRE CULTURAL

3.
Âncora 1
Âncora 2
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